27/01/05

requiem p'lo peido

seguidamente, proponho-me abordar um tema que me é particularmente caro: o peido.
obviamente que será uma 1ª abordagem, necessariamente superficial, pois se alguma vez tivesse a pretenção de o fazer com a seriedade que o tema merece, teria que escrever uma dissertação de doutoramento, que resultaria num tratado dividido em varios tomos, com uma dimensão literária e fisica apenas comparável à enciclopédia britânica ou ao " la recherche..." de marcel proust. será como que o capitulo inicial de uma história a que voltarei quando a ocasião se proporcionar.
expoente maximo da liberdade individual ( ou da libertação...), goza o peido de uma panache que arroto nunca terá. supera-o em risco e em surpresa e imprevisibilidade. em risco porque por muito confiante que seja o seu autor, um peido transporta um factor de risco que tem o seu peso. quem nunca, confiando na solidez da sua larada, expeliu o seu peido convicto que o unico risco que corria era o de ser ouvido ou cheirado por quem não era chamado, e foi mimoseado com aqueles mls. de merda rala que ficaram esquecidos nos interstícios do colon na ultima vez que visitou a sentina, e que agora lhe decoram a cueca em pincelada não encomendada, e certamente indesejada?
por outro lado, o peido é claramente mais atractivo em termos de imprevisibilidade. um arroto é maior ou mais pequeno consoante o ar que se engole, e fede de acordo com o que se comeu/bebeu e o estadio de digestão. o factor surpresa no arroto é quase desprezivel. com o peido, nada disto se passa. se é sonoro ou silencioso, curto ou longo, fétido ou aceitável, agudo ou encorpado, rasgador ou voo de abelha, seco ou com molho... ao contrário do arroto, o peido é um livro fechado. só abrindo a caixa de pandora, leia-se deixando fluir o dito através do nalguedo cagão, poderemos descobrir "o admirável mundo novo" que cada peido nos reserva. um mundo feito de frescas notas musicais, rendilhadas como um concerto para violino de paganini, gongóricas como uma opera de wagner, ou suaves e reconfortantes como uma cantatta de j.s.bach; e sempre envoltas em travo fétido e omnipresente de flora intestinal.
" não há cu que não dê traque..."este verso com mais de 20 anos de uma banda portuguesa já exinta, os saudosos já-fumega, espelha o caracter para-social do peido. seja príncipe ou pedinte, magnata ou sem-abrigo, operário ou presidente da republica, juiz ou ladrão, todos os dão. uns com mais classe que os outros. uns mais frequentemente que outros. mas todos os dão. poucos são os fenómenos que se poderão gabar desta universalidade. o peido atravessa classe sociais, raças, preferencias clubisticas, convicções religiosas, fronteiras... ou alguém imagina que o papa não dê o seu peido, abafado pelas tunicas que enverga e pelo som das ladaínhas que tem que gramar todos os dias... ou os meus leitores pensam que aquele ar de esforço é do cansaço ??? qual quê... é o velho que já nem tem força para dar um reconfortante peidinho, mas tenta, tenta...
a tipologia também é um assunto que dá pano para mangas. há-os dos mais variados tipos: rasgadores, voos de abelha, de pantufas, de botas cardadas, detectives, batedores, com molho, etc. eis um tema a que me comprometo voltar.
há momentos, que são particularmente gratificantes para peidar: o 1º peido da manhã, sempre longo, sonoro, tonitruante, é dos melhores do dia. o peido debaixo das mantas em noites gélidas de inverno também é optimo. os peidos em banho de imersão são os mais hilariantes. os expelidos em transportes publicos o mais sacanas, talvez equiparados aos dados no carro que ficam entranhados nos bancos horas a fio, os quentes que são os que piores cheiram. os de ressaca que chegam a dar vómitos... também pretendo posteriormente debruçar-me sobre este tema, em próxima abordagem
é como se vê, um tema com elevado grau de complexidade. mas um desafio atractivo, que abraçarei com espirito de missão, com a ambição de um navegador português, e coragem e a frontalidade de um forcado. porque é destes espinhosos desafios que é feita a cepa lusitana, a ele não virarei as costas; pelo contrário encará-lo-ei de frente, e beter-me-ei com galhardia e denodo. tortuosos são os caminhos que me esperam, mas neles caminharei com a segurança dos que se sabem apoiados por uma nação que nos observa e em nós deposita a sua esperança.
ao trabalho portanto.
desejem-me boa ventura...

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